21 Outubro 2015

Talvez esteja muito em cima da hora pra vir dar dicas pra redação do ENEM, mas… eu vim mesmo assim. Vamos lá:

1. Datenas do meu Brasil, evitem se deixar contaminar por um tom sensacionalista.
“Não se pode mais sair de casa no Brasil sem levar um tiro de bala perdida!”. O que dizer, então, sobre todas as pessoas (a maioria) que voltam vivinhas da Silva todos os dias? Propostas de redação com temas polêmicos ajudam a mostrar que temos fortes candidatos pra substituir o Datena. O que se espera na redação não é que você coloque pra fora sua revolta e indignação com algum problema social do Brasil, mas que olhe pra esse problema e faça uma análise de modo sensato, ponderado e embasado. Afirmar que “Há cidades do Brasil em que a alta taxa de assaltos chama a atenção de especialistas” é bem diferente de dizer que “Basta uma pessoa pisar na rua que já é assaltada!”. A segunda frase é falsa e você não vai ganhar pontos na nota por ter “causado impacto”. Vai sugerir que não tem compromisso com a verdade, ou seja, vai causar má impressão.

2. Não generalize.
O problema com as generalizações é que elas são falsas, o que significa que você corre o risco de colocar informações erradas no texto e perder credibilidade. Por exemplo: por mais evidências que haja sobre a corrupção na política brasileira, não sabemos a porcentagem de políticos honestos. “Nenhum, ué!!!”, meus alunos me responderam quando fiz esse comentário. E se houver uma cidadezinha lá no interior daquele estado que a gente mal lembra que existe em que os políticos estejam de fato comprometidos com um trabalho íntegro, em prol da população? Quando deixamos de generalizar, mostramos que estamos cientes da limitação de nosso conhecimento. ADMITIR QUE NÃO SABEMOS É SINAL DE BOM SENSO. Não posso acusar de corrupção todos os políticos porque não há dados concretos que embasem essa afirmação. Não sejamos Datenas na redação (nem na vida). Mas você acredita do fundo do coração que isso é verdadeiro… como faz? A salvação é MODALIZAR. Algumas sugestões sobre como sair dessa:

● Muitos acreditam que toda a política brasileira está contaminada por corrupção.
● Há uma crença generalizada de que políticos honestos são minoria no cenário brasileiro.
● Em geral, os políticos brasileiros são considerados corruptos

3. Cuidado com saudosismos.
É muito comum ouvirmos pessoas mais velhas dizerem “no meu tempo é que as coisas eram boas”, “no meu tempo a escola era de qualidade”, “no meu tempo os políticos eram bons pra população”. Quando, cara-pálida, na ditadura? Mesmo quando se tem a impressão de que algo mudou na sociedade, fazer afirmações VAGAS pode ser uma área de risco. Como saber se a escola era melhor? Como medir a qualidade da formação dos professores antigamente e agora? O que significa “melhor”? Havia menos alunos por sala? Todos estavam matriculados? Os professores passavam por programas de formação mais extensos? A menos que saibamos uma resposta concreta para essas perguntas, com base no resultado de pesquisas sérias, é melhor não afirmarmos nada de modo categórico. Ok, mas e se você tem necessidade moral-fisiológica-urgente-caso-de-vida-ou-morte de fazer menção ao que você acha que é real? Proteja-se do erro com essas sugestões:

● Muitos (e não todos!) brasileiros têm a impressão (e não certeza!) de que a qualidade do ensino público já foi melhor no passado.
● Em geral, é comum que se acredite que a qualidade do ensino público piorou no Brasil, embora muitos aspectos relacionados à educação sejam difíceis de mensurar.

4. O avaliador não é teu bróder.
Um dos aspectos avaliados na sua redação é o uso da língua portuguesa. Isso significa tanto escrever de maneira clara, respeitando a ortografia das palavras e construindo frases cuja estrutura seja comum na nossa língua, quanto respeitar a formalidade que um texto dissertativo demanda. Meu conselho é: releia seu texto quando terminar de escrever, circule o que estiver informal demais (ou estranho demais) e procure outros modos de dizer a mesma coisa. Reler o texto é fundamental! Não ter preguiça de fazer substituições apressadas do que não estiver bom é imprescindível. Evitem ser muito informais na redação (na vida pode). Um exemplo?

● Em vez de dizer que a população “se deu mal”, diga que foi afetada negativamente, ou que o plano não foi bem-sucedido, ou que os resultados não foram favoráveis à população.

5. Não sois Camões, porém.
O tópico anterior me preocupa: quando pedimos aos alunos que evitem construções ou expressões muito coloquiais, eles tendem a ir pro extremo oposto e sair escrevendo feito Camões. Uma coisa importante para se ter em mente é que, fosse Camões vivo em 2015, nem ele escreveria como Camões. O objetivo da redação é que você seja claro e objetivo, sem rodeios, sem apego a erudições. Não se trata de um concurso de poesia, mas de uma oportunidade para você mostrar para as pessoas que vão ler seu texto que: você sabe usar a variedade-padrão do português mais ou menos bem, você sabe expor suas ideias mais ou menos bem, você consegue dissertar sobre uma questão complexa da nossa sociedade mais ou menos bem e você é capaz de oferecer uma sugestão mais ou menos boa pra ela. Far-se-á necessário que me valha de mesóclises? CLARO QUE NÃO!  😉

6. É preciso que o governo resolva essa situação urgentemente!
Bem, também é preciso que caia mais dinheiro na minha conta, mas nem por isso o saldo tem aumentado… Não adianta fazer um pedido indignado, apaixonado, #chateado e não apresentar ARGUMENTOS. Como vocês sabem, o último parágrafo do Enem requer que o candidato ofereça uma proposta de solução para o problema discutido, mas não é qualquer solução. Primeiro: tem que ser uma solução VIÁVEL. Não adianta, então, propor que todos os professores do Brasil passem um ano se atualizando longe das salas de aula e só voltem a lecionar no ano seguinte. Segundo: tem que ser uma solução que respeite os DIREITOS HUMANOS. Se você é do time que acha que jogar uma bomba em Brasília resolve nossos problemas, por gentileza, não conte isso ao avaliador. Terceiro: tem que ser uma solução CONCRETA. Em vez de dizer que “É preciso que o governo melhore a educação”, você pode sugerir:

● É necessário que haja investimentos na formação de professores e na composição de equipes escolares, de modo que os estudantes possam encontrar um ensino efetivo na rede pública de educação.

Essas dicas foram escritas com base em alguns dos erros mais comuns que os alunos costumam cometer ao escrever. Pra quem vai fazer a prova, não se esqueça:
● Sua redação deve ter entre 7 e 30 linhas. Com menos de 7, você tira zero;
● Você deve se restringir ao assunto proposto. Fuga ao tema significa nota zero;
● Não copie trechos dos textos de apoio! Aquela coletânea serve pra ajudar a situar os candidatos, caso não saibam muito sobre aquele assunto. É uma ÓTIMA maneira de garantir que todos tenham pelo menos uma quantidade mínima de informações. Copiar trechos daquilo corresponde a gastar linhas em vão (e a nota é zero);
● Não escreva uma carta, um manifesto, um poema, nada disso: escreva um texto dissertativo-argumentativo;
● O título é opcional.

Se tiverem alguma dúvida específica, podemos responder até sábado!

Boa prova a todos!

 

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Talvez esteja muito em cima da hora pra vir dar dicas pra redação do ENEM, mas… eu vim mesmo assim. Vamos lá: 1. Datenas do meu Brasil, evitem se deixar contaminar por um tom sensacionalista. “Não se pode mais sair de casa no Brasil sem levar um tiro de bala perdida!”. O que dizer, então, […]

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2 Outubro 2015

Olha o que mandaram pra gente… rs

 

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Olha o que mandaram pra gente… rs  

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17 Julho 2015

Oi, querido visitante!

Nosso site tem estado meio parado, não é? Por isso, gostaria de convidá-lo a visitar outras redes em que estamos mais ativos: o Facebook e o Instagram. Mesmo que você não tenha contas nesses lugares, consegue visualizar todo o conteúdo que postamos. Não deixe de nos visitar! Pra finalizar esse recado, fiquem com a postagem do dia:

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30 Abril 2015

O senso comum costuma acreditar que o melhor professor de uma língua estrangeira é o nativo, aquele que cresceu falando o idioma e que, portanto, deve ter maior domínio sobre seu vocabulário e estruturas sintáticas. Para quem se encaixa nesse perfil, o argumento funciona como uma jogada de marketing implacável: estampar os dizeres “professor nativo” em cartões de visita é uma ótima estratégia para valorizar o passe. Para os alunos, por outro lado, a informação ajuda a estimular investimentos financeiros: não vale a pena gastar um pouco mais e aprender um idioma com alguém que sempre fez uso dele sem esforços? Claro que sim! (cof cof)

A maneira mais fácil de contestar esse argumento é perguntar aos nossos amigos brasileiros se se sentem aptos a lecionar o português, seja para outros brasileiros ou para um aluno estrangeiro. Somos, todos nós, falantes fluentes e proficientes do português brasileiro, conhecedores de um vocabulário vasto e de todas as estruturas necessárias para nos expressar, seja lá qual for a variante do português que empregamos. Poucos de nós, porém, têm o conhecimento necessário da língua para ensiná-la. O que justifica, então, a falsa ideia de um professor estrangeiro é tudo o que um aluno pode querer?

Suponho que a primeira resposta esteja relacionada à mania dos brasileiros de achar que não sabem o português e que as pessoas de países supostamente mais desenvolvidos dominam as estruturas e nomenclaturas ensinadas em ambiente escolar. Ao contrário do que pensamos, o que acontece com os brasileiros é o que acontece com qualquer ser humano de qualquer lugar do planeta: a língua que usamos no dia a dia não corresponde à língua registrada nas gramáticas. No mundo todo, todos cometem desvios e nem todos conhecem a língua padrão. E mais: não há nada de errado nisso. A única conclusão a se depreender daí é que ter nascido na Inglaterra, na França ou no Canadá, por exemplo, não faz de ninguém um professor por excelência. O mesmo acontece na área de tradução: não é por que alguém morou por anos em outro país que se transformou em um tradutor habilitado daquele idioma! Ensinar, traduzir, revisar, tudo isso requer muito estudo.

A segunda resposta que eu daria pra pergunta “Por que se sonha com professores estrangeiros?” pode ser traduzida na fala de quem diz querer aprender “sem sotaque”. Imagino um gringo comemorando o fato de ter encontrado um professor brasileiro, crendo que poderá aprender o português sem sotaque. Não é só um estrangeiro falando outro idioma que tem sotaque; todo mundo tem, falando a língua que for. Portanto, além do inevitável sotaque que já acrescentaremos à língua que formos aprender, o sotaque característico da região de onde vem nosso suposto “nativo sem sotaque” estará presente. Algum problema nisso? Nenhum.

Também é possível pensar, não sem certa dose de preconceito, que pode ser mais chique ter um professor nativo. Sei que provavelmente a minoria das pessoas procuraria um professor nativo por esse motivo, mas já que estamos elencando possibilidades, não custa incluir também esta.

Não pretendo, com essa reflexão, dissuadir ninguém quanto a ter um professor nativo. Quem tem o objetivo de praticar a “conversação” pode se beneficiar imensamente tendo um professor cuja proficiência é inquestionável, por exemplo.

Também existem muitos nativos que se preparam para lecionar e que, como os outros professores, devem ser valorizados. O objetivo deste texto é somente assegurar aos leitores que professores brasileiros podem, sim, lecionar um idioma estrangeiro com excelência, e que professores nativos não são garantia de aulas brilhantes (embora isso possa acontecer). Uma última comparação é que o professor brasileiro, por ter domínio das duas línguas, conhece os pontos de dificuldade que o aprendizado pode apresentar, o que não aconteceria com um professor que não domina o português.

Se você tem um bom professor, portanto, não se lamente pela nacionalidade dele. A gente garante que isso é o de menos.

O senso comum costuma acreditar que o melhor professor de uma língua estrangeira é o nativo, aquele que cresceu falando o idioma e que, portanto, deve ter maior domínio sobre seu vocabulário e estruturas sintáticas. Para quem se encaixa nesse perfil, o argumento funciona como uma jogada de marketing implacável: estampar os dizeres “professor nativo” […]

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