A polêmica do “dorama” e a Academia Brasileira de Letras
A polêmica do “dorama” e a Academia Brasileira de Letras
Se você não estava por dentro da polêmica que surgiu depois de a palavra “dorama” ter sido incorporada ao nosso vocabulário oficial por decisão da Academia Brasileira de Letras (ABL), eis um resumo!
O termo “dorama” se popularizou no Brasil em decorrência do sucesso de séries asiáticas por aqui. “Dorama” vem de “drama”. Trata-se de uma tentativa de indicar a dificuldade dos japoneses em pronunciar o encontro consonantal (como ocorre na sílaba “dra”).
Quando um termo passa a ser amplamente usado no nosso país, a ABL é responsável por oficializá-lo, o que acontece com sua inserção no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Até aí, legal, a língua muda e isso se oficializa às vezes. Outros termos incluídos recentemente são “feminicídio”, “covid-19” e “sororidade”. A vida muda, a língua muda. Mas…
No Instagram, a ABL divulgou a definição de “dorama” afirmando que se trata de “uma obra audiovisual de ficção no formato de série, produzida nas regiões leste e sudeste da Ásia e que “foram originalmente concebidos no Japão”. Também esclareceu que há denominações específicas para identificar a origem dessas produções, como J-drama (doramas japoneses), K-drama (coreanos) e C-drama (chineses).
Em seguida, a Associação Brasileira dos Coreanos divulgou um manifesto condenando essa definição. Para os pesquisadores coreanos, ela é preconceituosa e generaliza as produções asiáticas. Para eles, “dorama” (de origem japonesa) não pode ser usado como um termo guarda-chuva para séries outros países. “É como falar que toda comida nordestina é comida baiana”, disse o presidente da associação. A ABL se defendeu dizendo que apenas apontou o uso da palavra como ele ocorre em contextos reais em português no Brasil.
Pelo que entendi, a forma como usamos “dorama” apaga as especificidades das mídias de países asiáticos, gerando conceitos equivocados e reforçando estereótipos. “Generalizar as produções do sudeste asiático como doramas seria como chamar todos os asiáticos de japa”, disse Yun Jung Im, professora e coordenadora da graduação em Letras – Coreano da Universidade de São Paulo (USP).
Ricardo Cavaliere, membro da comissão de lexicografia da ABL, defendeu a definição: “Não é incomum que, uma vez incorporada a outra língua, a palavra ganhe vida própria, rapidamente se distanciando de seu sentido ou de seu emprego original”. Ele explicou ainda que “o registro feito em dicionários e vocabulários é posterior ao uso que os falantes fazem da língua no processo de comunicação”.
Manu Gerino, da página Coreanismo, especialista em filmes e séries coreanas, disse: “Até a primeira metade do século 20, o Japão invadia a Coreia, e lá aconteceu todo tipo de violência inerente a uma colonização. […] Então hoje, quando usamos um termo japonês para algo coreano, essa lembrança de violência vem junto”.
Fontes:
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Intertextualidade: mito de Pandora
Intertextualidade: mito de Pandora
A INTERTEXTUALIDADE acontece quando um texto existente é retomado ou recriado (de modo explícito ou implícito) em um novo texto. Por isso, também é considerada uma espécie de diálogo (com obras pré-existentes).
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ESTE ano ou ESSE ano? Entenda quando usar!
ESTE ano ou ESSE ano? Entenda quando usar!
Sempre que vamos falar de algo que está muito próximo de nós, seja FISICAMENTE ou no TEMPO, recomenda-se usar o ESTE.
Para falar da semana atual, dizemos “esta” semana.
Para falar sobre uma foto que estamos segurando, dizendo “esta foto”.
Para nos referirmos ao nosso próprio texto, usamos “este” (“este trabalho tem o objetivo de…”).
Portanto, se vamos falar do ano que já começou, devemos nos referir a ele dizendo “este ano”.
Aqui, o critério é este: TEMPO.
(Estou dizendo isso porque, em outros contextos, há outros critérios. Melhor aprender um de cada vez!)
Macete: lembre de usar esTe para indicar algo que esteja perTo ou no presenTe.
Vale lembrar que as línguas são dinâmicas e mudam ao longo do tempo. Atualmente, no português brasileiro, a distinção entre “esse” e “este” não é sentida como uma necessidade por muitos falantes, o que pode gerar a diminuição de seu uso ao longo do tempo. Na maior parte dos contextos, isso não é um problema. No entanto, em contextos mais formais ou avaliativos, as convenções referentes ao uso dos pronomes demonstrativos ainda são bastante valorizadas.
Você acertou? Quero saber se já conhecia esse caso!