Sem medo de não entender

Sem medo de não entender

Uma das principais reclamações entre quem se recusa a ler grandes nomes da literatura brasileira é a suposta dificuldade para compreender o vocabulário dos livros. Por isso, resolvemos escrever um post curtinho e divertidinho e mostrar que não há motivos pra se assustar ao se deparar com uma palavra desconhecida. Em alguns contextos, mesmo que a palavra não estivesse lá, poderíamos entender todo o texto. Duvida? Observe a estratégia usada no anúncio publicitário a seguir:

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O contexto bastou para que você completasse as primeiras frases sem dificuldade, não foi?
O mesmo acontece com qualquer trecho do Machado de Assis. Você sabe o que é uma alcova? Será de comer? De vestir? Dá pra comprar? É um nome pejorativo?
Vejam estes dois períodos de Dom Casmurro, por exemplo:

“Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova.”
“Fizeram-me entrar na alcova, onde ele jazia estirado na cama, mal coberto por uma colcha de retalhos.”

 

Lendo a primeira frase, a gente já saberia que se trata de um lugar. Com a segunda, sabendo que a alcova é o lugar onde encontramos a cama, fica fácil! Segundo o dicionário, era esse o nome de pequenos quartos de casas antigas.

Vejamos, agora, dois trechos do livro Quincas Borba:

“Freitas elogiava tudo, saudava cada prato e cada vinho com uma frase particular, delicada, e saía de lá com as algibeiras cheias de charutos.”
“Levantou-se, meteu as mãos nas algibeiras das calças e, depois de alguns passos, parou defronte de Sofia.”

 

Antes de ficar nervoso com a palavra desconhecida, tente imaginar aquele espaço em branco. Onde seria possível guardar charutos? Em uma bolsa? Um estojo? Olhando a segunda frase, fica fácil: se algibeira é um compartimento da calça onde é possível enfiar as mãos, só pode ser o bolso.

Essa tática vale também pra quem está aprendendo um idioma novo: em alguns contextos, somente determinadas palavras caberiam. A dica é reler a frase imaginando quais palavras fariam sentido lá. Costuma funcionar!

Se você tem outras dificuldades (birras, repulsas, fobias) ao ler, conte pra gente quais são e tentaremos ajudar! Fugir de autores SUPERLEGAIS como Machado de Assis por não entender algumas palavras é como deixar de ir à praia porque vai se sujar de areia.

Até a próxima!  😉

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“Texto” [Colunista convidado]

“Texto” [Colunista convidado]

A partir de hoje, nosso site passa a ter uma coluna semanal com textos de outras pessoas! O primeiro a entrar no esquema foi o Renato Tresolavy, que já enviou pra gente alguns textos que serão publicados aqui     Não percam! Eis o primeiro:

 

Neste primeiro texto, vamos conversar sobre o conceito de… texto! O que é um texto? Imagine-se respondendo a essa pergunta. O que você responderia? Bom, não há só uma resposta possível, ou melhor, não há uma resposta única para essa pergunta, já que dependendo da corrente teórica adotada, análise do discurso ou semiótica, por exemplo, o conceito de texto muda consideravelmente. Vamos adotar aqui a perspectiva de texto sob o ponto de vista da linguística textual. Podemos dizer, a partir dessa corrente teórica, que um texto é construção de sentido, produto de uma intenção e pertence necessariamente a um gênero. Vamos explicar ponto a ponto. Segundo o professor Ernani Terra, em seu livro Leitura do texto literário, “o sentido do texto é construído pelo leitor”. Isso significa dizer que os textos nunca estão prontos, esperando apenas sua decodificação, já que língua não é apenas um código esperando ser decifrado. O leitor traz sempre consigo suas experiências, seu repertório, seu conhecimento linguístico para dialogar com o texto que se propõe a ler. Desse diálogo entre autor e leitor, intermediado pelo texto, surge o entendido ou às vezes, o mal-entendido, dependendo do caso.

Os textos são também produtos de uma intenção, porque não existem textos neutros, desprovidos de intenções. Todo texto é marcado pela intencionalidade, aliás, a intenção é a essência de um texto. Há textos que têm a intenção de convencer o leitor de algo, de informar sobre um fato, de emocionar pela poesia, de provocar uma ação, de convocar para participar de uma causa, de ensinar uma receita de bolo. As possibilidades são múltiplas e variadas. Com um texto, enfim, pretendemos exercer influência no leitor conseguindo sua adesão a um propósito comunicativo.

Assumir que os textos pertencem também a um gênero significa dizer, nas palavras do professor Antonio Suárez Abreu, em seu livro O Design da Escrita, que “um texto é sempre produzido em uma situação particular de interação social, seja um editorial, uma propaganda, um telefonema, uma dissertação escolar ou até mesmo um romance…”. Concluímos, então, que, se os textos são produzidos sempre em situação particular de interação, seja ela qual for, todo texto pertence a um gênero. E as possibilidades de gêneros textuais são praticamente infinitas. E antes de encerrar também é importante dizer: os textos se manifestam em diversas formas e linguagens, inclusive não verbais, como placas de trânsito ou mesmo nossos gestos. Há inclusive os hipertextos, textos que apresentam múltiplas linguagens e possibilidades de leitura.

 

 

Meu nome é Renato Luiz Tresolavy, sou editor de livros didáticos e fui professor de escola pública. Neste espaço do site Portuguêé Legal, gentilmente cedido pela minha amiga Carol Pereira, proponho discutir com estudantes, pais e professores assuntos que envolvem o ensino e aprendizagem de gramática, produção de textos, leitura e literatura. A cada semana, pretendo trazer aqui um tema diferente sobre o universo maravilhoso do Português.

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