Comparação e Metáfora: estilo e criatividade na linguagem

Por Renato Tresolavy

Elas estão por todo lugar, invadindo nossas mentes com sua força persuasiva e criativa e mexendo com nossos sentidos. Na televisão, no rádio, nos livros, na música, na internet. A comparação e a metáfora, duas figuras de linguagem, exercem influência importante na construção de todo o tipo de discurso que dizemos, lemos ou ouvimos, porque elas quase sempre provocam nossas emoções e conferem beleza e expressividade à mensagem. A comparação certa ou a metáfora bem pensada são recursos argumentativos poderosos, principalmente quando o assunto é convencer alguém do que quer que seja.

A metáfora é uma comparação abreviada, como nos ensina o professor António Suárez Abreu, da Unicamp, no livro A Arte de Argumentar (Ateliê Editorial).  Antes de falar da metáfora em si, vejamos o que é uma comparação. Ouvi esses dias uma propaganda no rádio que procurava convencer o ouvinte a alugar um carro em determinada locadora, porque alugar ali é tarefa muito fácil e livre de burocracias. Para convencer, a propaganda comparou a facilidade do aluguel com uma facilidade, digamos, culinária (a comparação aproxima semelhanças, no caso, aproxima facilidades): é fácil alugar, tão fácil como preparar pipoca no micro-ondas. Comparação inusitada, estranha e engraçada. Mas as comparações são também poéticas e sublimes, como na linda e melancólica música de Lulu Santos e Nelson Motta, Certas coisas: “Eu te amo calado/como quem ouve uma sinfonia/de silêncios e de luz…/Tem certas coisas que eu não sei dizer”.

Já a metáfora (transporte, do grego metaphorá), por sua vez, não é construída com palavras ou expressões de valor comparativo (como, tal qual, semelhante a), daí porque é considerada uma comparação abreviada. Na metáfora, há uma ideia de transporte de sentidos: do sentido próprio para o figurado, e a comparação continua existindo, só que de forma implícita. Padre Antônio Vieira, no Sermão do Santíssimo Sacramento, constrói uma metáfora tão expressiva quanto criativa para falar da importância essencial da união para a vida:

Toda a vida não é mais que uma união. Uma união de pedras é edifício; uma união de tábuas é navio; uma união de homens é exército. E sem essa união tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união é uma ruína; o navio sem união é naufrágio; o exército sem união é despojo.

Como não acreditar na força e no poder da união para a vida ao ler essas metáforas de Vieira? Somos imediatamente persuadidos a acreditar que a vida se confunde com a união, sem união não há vida, não há edifícios, não há navios ou exércitos. E eu me atrevo a aumentar a lista: não há texto, não há equipes de futebol, não há família…

Tanto a comparação como a metáfora dão mais cor, estilo e emoção a nossas palavras. São duas figuras de linguagem que tornam nossas palavras mais originais, mais incisivas e comoventes.  Basta comparar por exemplo a união de Vieira com os significados de união no dicionário (Aulete Digital): 1. Ação ou resultado de unir, ligar; 2. Associação de pessoas ou coisas; […] 4. Casamento, matrimônio. Por essas e outras que Padre Antônio Vieira (1608-1697) é considerado até hoje um dos maiores oradores da literatura e maior expressão do Barroco em língua portuguesa.

 

 

Meu nome é Renato Luiz Tresolavy, sou editor de livros didáticos e fui professor de escola pública. Neste espaço do site Portuguêé Legal, gentilmente cedido pela minha amiga Carol Pereira, proponho discutir com estudantes, pais e professores assuntos que envolvem o ensino e aprendizagem de gramática, produção de textos, leitura e literatura. A cada semana, pretendo trazer aqui um tema diferente sobre o universo maravilhoso do Português.

 

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