26 Julho 2016

Léo Ottesen*

 

Hoje me parabenizaram pelo Dia Nacional do Escritor. Fiquei feliz com a lembrança, com o carinho, e, principalmente, com o reconhecimento. Porque eu sempre desejei isso: ser reconhecido pelo meu trabalho. Mas tem uma coisa que se repete nas homenagens e nas mensagens que me faz refletir sobre o ofício. Seja neste dia do Escritor, seja no da Poesia (31 de outubro), no do Profissional de Letras (21 de maio) e afins, o pedido é repetido sempre: não deixe de escrever (ou continue escrevendo)!

Claro que é gratificante ler e ouvir esse desejo, nunca reclamei. Contudo, imagino se profissionais de outras áreas, como médicos e engenheiros, também recebem pedidos como esse. – Parabéns pelo seu dia, nunca pare de tratar pessoas/construir coisas.

A bem da verdade, eu acredito que a grande maioria das pessoas entende as dificuldades pelas quais nós, artistas, passamos e, ainda que não compreendam a fundo essa nossa vontade esporádica de largar tudo e ter um emprego “normal”, elas se sentem no dever de impulsionar e encorajar aquele profissional criador, já que ele é muito teimoso e merece o reconhecimento por não chutar o balde e por continuar tentando.

A literatura, como outras artes, é um caminho sem volta. O escritor, a meu ver, já nasce escritor, mesmo que demore pra se descobrir tal como é. Portanto, o pedido de não deixar de escrever é mais sobre produção do que sobre criação. Assim: nunca pararemos de escrever, porque – com o perdão da pieguice – essa é a nossa vida. Mas, por outro lado, podemos parar de mostrar as obras ao público. E essa vontade acontece com frequência.

O pedido de que se siga criando tem, pois, algo de egoísta. Sabem que seguiremos criando, porque é necessário, vital, mas também devem saber que podemos facilmente cansar de tentar, de revelar o nosso mais íntimo ao mundo, de esperar e esperar e esperar por alguma coisa que nem sabemos bem o quê. Por isso pedem: nunca pare de escrever! Que, na verdade, é: continue se mostrando; nunca pare de lutar. E não. Não pararemos. Não por enquanto. Mas obrigado pela lembrança.

E um feliz Dia Nacional do Escritor!

 

*Escritor, poeta e professor de escrita criativa.

iceberg-leitura-livros-pawel-kuczynskiIlustração de Pawel Kuczynski.

Léo Ottesen*   Hoje me parabenizaram pelo Dia Nacional do Escritor. Fiquei feliz com a lembrança, com o carinho, e, principalmente, com o reconhecimento. Porque eu sempre desejei isso: ser reconhecido pelo meu trabalho. Mas tem uma coisa que se repete nas homenagens e nas mensagens que me faz refletir sobre o ofício. Seja neste […]

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