22 Novembro 2015

Houve uma época do passado em que o ano começava em março, sendo janeiro e fevereiro os dois últimos meses. Daí decorre que o nome do mês de SETEMBRO (September, setiembre, septembre, settembre etc.) não era arbitrário: tratava-se do sétimo mês do ano.

Quando, em 46 a.C., Júlio César alterou o calendário, implantando o que ficaria conhecido como calendário juliano, setembro passou a ser o mês 9, deixando de ter relação com seu nome.

Hoje em dia, essa “estranheza” não nos causa estranheza; apenas aprendemos essa informação sem questionar. O mês NOVE não é o “NOVEmbro”, mas o “SETEmbro”, e está tudo bem.

Concordemos ou não com a mudança feita por Júlio César, ela aconteceu e foi incorporada no cotidiano de tal modo que, embora provavelmente tenha causado incômodo nas pessoas que tiveram de se adequar a ela naquela época, já se naturalizou.

Mudanças acontecem, sejam elas “naturais” ou “implantadas”. E a gente se acostuma com elas, não é? Depois de um tempo, já nem lembra como era antes e a nova realidade passa a ser vista com naturalidade. Parece mensagem motivacional, mas é só uma provocação para quem acredita que é preciso “lutar” para “preservar” nossa língua tal como ela é.

O exemplo clássico para ilustrar essa ideia é a metamorfose pela qual passou nosso pronome de tratamento “você”. Para nós, trata-se da maneira “correta” de “falar e escrever” o português. Para quem tenha nascido um pouco antes de nós, entretanto, certamente essa grafia causara incômodo, uma vez que o que era considerado correto anteriormente era o “voscê”. Mas para quem nasceu um pouco antes dos falantes de “voscê”, esse pronome certamente pareceu uma redução preguiçosa e errada do correto “vosm’cê”. Vocês bem sabem, porém, que “vosm’cê” nada mais era que uma simplificação de seu predecessor “vosmecê”, que, por sua vez, foi a simplificação do “vossemecê”, que também resultou da simplificação do “vossa mercê”.

Quando um falante afirma que as pessoas estão assassinando a língua portuguesa, a que língua está se referindo? Porque o próprio uso do “você”, tão comum nos dias de hoje, seria considerado um assassinato inaceitável alguns séculos atrás. Quando alguém argumenta que os linguistas querem simplificar a língua porque somos incapazes de ensiná-la, me pergunto se essa pessoa escreve “pharmácia”, “craro” (para “claro”), “coraçom” (para “coração”), “molier” (para “mulher”), “arbores” (para “árvores”), “phase”, “lagryma”, “psychologico” e até “portuguez”, que já foram consideradas corretas e não são mais.

Assim como não nos incomoda chamar o nono mês do ano de setembro, também não parecemos constrangidos por ter mexido na grafia do português de séculos atrás (Se houvesse constrangimento, certamente escreveríamos “jnoramçia” e não “ignorância”, “lête” e não “leite”, “lympeza” e não “limpeza” e assim por diante). Por que tanta relutância em permitir que a língua que usamos hoje também mude? O fato é que ela vai mudar independentemente de nossa vontade ou permissão. Já mudou e continua mudando.

Como costuma afirmar o professor Marcos Bagno, não faz sentido querer proteger uma língua de seus próprios falantes. Alguém discorda?

 

Escrito por
Carolina Pereira | carolinajesper@gmail.com | @carolinajesper

Mestre em Educação (USP), especializada em Tradução (UGF), graduada em Letras (USP)

Variação diacrônica do pronome de tratamento você / vossa mercê / vosmecê

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.Autoria: Carol Pereira

283x91@2x| carolinajesper@gmail.com.

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