15 Abril 2015

Que tal um pouco de leitura?

 

Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
Artigo I 
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II 
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III 
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV 
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único: 
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V 
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI 
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII 
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX 
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X 
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI 
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII 
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único: 
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII 
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final. 
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Santiago do Chile, abril de 1964 

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Nossa missão é combater o preconceito linguístico e dar dicas sobre o padrão da língua, que todos têm o direito de conhecer.



30 Janeiro 2015

Uma das principais reclamações entre quem se recusa a ler grandes nomes da literatura brasileira é a suposta dificuldade para compreender o vocabulário dos livros. Por isso, resolvemos escrever um post curtinho e divertidinho e mostrar que não há motivos pra se assustar ao se deparar com uma palavra desconhecida. Em alguns contextos, mesmo que a palavra não estivesse lá, poderíamos entender todo o texto. Duvida? Observe a estratégia usada no anúncio publicitário a seguir:

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O contexto bastou para que você completasse as primeiras frases sem dificuldade, não foi?
O mesmo acontece com qualquer trecho do Machado de Assis. Você sabe o que é uma alcova? Será de comer? De vestir? Dá pra comprar? É um nome pejorativo?
Vejam estes dois períodos de Dom Casmurro, por exemplo:

“Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova.”
“Fizeram-me entrar na alcova, onde ele jazia estirado na cama, mal coberto por uma colcha de retalhos.”

 

Lendo a primeira frase, a gente já saberia que se trata de um lugar. Com a segunda, sabendo que a alcova é o lugar onde encontramos a cama, fica fácil! Segundo o dicionário, era esse o nome de pequenos quartos de casas antigas.

Vejamos, agora, dois trechos do livro Quincas Borba:

“Freitas elogiava tudo, saudava cada prato e cada vinho com uma frase particular, delicada, e saía de lá com as algibeiras cheias de charutos.”
“Levantou-se, meteu as mãos nas algibeiras das calças e, depois de alguns passos, parou defronte de Sofia.”

 

Antes de ficar nervoso com a palavra desconhecida, tente imaginar aquele espaço em branco. Onde seria possível guardar charutos? Em uma bolsa? Um estojo? Olhando a segunda frase, fica fácil: se algibeira é um compartimento da calça onde é possível enfiar as mãos, só pode ser o bolso.

Essa tática vale também pra quem está aprendendo um idioma novo: em alguns contextos, somente determinadas palavras caberiam. A dica é reler a frase imaginando quais palavras fariam sentido lá. Costuma funcionar!

Se você tem outras dificuldades (birras, repulsas, fobias) ao ler, conte pra gente quais são e tentaremos ajudar! Fugir de autores SUPERLEGAIS como Machado de Assis por não entender algumas palavras é como deixar de ir à praia porque vai se sujar de areia.

Até a próxima!  😉

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3 Agosto 2014

Bom domingo a todos!

 

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27 Dezembro 2013

Trecho do poema Cântico negro, do escritor José Régio.

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