16 Setembro 2018

 

“Gente que quer um romance como o de Romeu e Julieta sem saber que foi um romance de três dias e seis mortos. É preciso ler!”

A placa é divertida, sem dúvida, e certamente desperta a simpatia de quem conhece a obra. Mas ela também suscita muitos questionamentos:

Que livros leríamos se não soubéssemos quais são considerados leitura obrigatória nos dias de hoje?
Mais vale um repertório amplo e variado ou um repertório enxuto e composto por obras que têm sido eleitas como canônicas?
A literatura pode invadir nossas vidas de tal forma que citamos suas referências mesmo sem conhecimento profundo, ou é preciso ser preciso ao recorrer ao mundo literário?
Os critérios de quem define o cânone literário são universais?
De que modo o imaginário popular acerca de enredos e personagens literários de livros que não foram lidos se relaciona à literatura? Há impactos, efeitos, influências?
A popularização de ideias relacionadas a livros não lidos aproxima ou afasta as pessoas da leitura?
Quem define o que deveria ser lido por todos? E quanto às grandes obras às quais esse grupo eventualmente não tenha tido acesso?
Será que existe um repertório básico obrigatório a todo bom leitor?
Como interpretar o fato de uma obra como Romeu e Julieta habitar o imaginário popular como modelo de amor romântico?
Perguntas…

 

Tradução: Romeu e Julieta não é uma história de amor. Trata-se de um relacionamento de 3 dias entre uma pessoa de 13 anos e outra de 17 que resultou em 6 mortes. Atenciosamente, todos que leram o livro.

  “Gente que quer um romance como o de Romeu e Julieta sem saber que foi um romance de três dias e seis mortos. É preciso ler!” A placa é divertida, sem dúvida, e certamente desperta a simpatia de quem conhece a obra. Mas ela também suscita muitos questionamentos: Que livros leríamos se não soubéssemos […]

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27 Outubro 2017

Uma novidade no Enem 2017 é que a Justiça Federal suspendeu dia 25/10 aquela regra que prevê punição aos candidatos que desrespeitem os direitos humanos na redação da prova. Nos anos anteriores, ferir os direitos humanos era um dos motivos para o candidato zerar automaticamente na redação, de maneira que os outros aspectos nem eram avaliados.

O MEC ainda não foi informado oficialmente e o INEP está reforçando que vai continuar com a mesma avaliação, mas pode ser que agora você possa se posicionar contra os direitos humanos! Mesmo assim, NÃO DEVE.
Vou explicar por quê.

1. Na redação, o participante deve escrever sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política relevante para o momento presente no Brasil. Também é uma exigência que a redação apresente uma proposta de intervenção social para o problema apresentado. Se os argumentos não forem consistentes, estruturados com coerência e coesão, o participante também será lesado perdendo pontos. Como é muito difícil encontrar argumentos consistentes contra os direitos humanos, é bastante improvável que quem o faça consiga uma boa pontuação.

2. Os temas trazidos pelo ENEM são complexos, o que justifica sua relevância na prova. Não haveria motivo para fazerem uma proposta com tema simples, de solução fácil, que não careça de debate. Se um determinado problema está sendo apresentado para reflexão de milhares de estudantes, é por ser considerado um desafio para a sociedade. Sendo assim, qualquer sugestão radical ou “fácil” torna a argumentação INCONSISTENTE, o que acontece em ideias como jogar uma bomba no congresso; proibir todas as religiões do mundo; impor à população uma “ideologia única”; defender tortura ou execução sumária; defender “justiça com as próprias mãos”; aprovar violência motivada por questões de raça, etnia, gênero, credo, condição física, origem geográfica ou socioeconômica etc.

3. Um dos critérios de avaliação da redação é a compreensão da proposta e a aplicação de conceitos das várias áreas do conhecimento. Qualquer solução fácil ou radical está inevitavelmente se desviando do que preconizam profissionais e cientistas que estudam nossa sociedade partindo de diferentes pontos de vista. Ao propor uma solução para a situação apresentada, é preciso pensar em detalhes: quem vai executar, como, fazendo o que, de que modo, com que finalidade. Se esse detalhamento faz o candidato se sentir planejando um atentado terrorista, tem algo de errado aí (e ganhando ou não o ZERO dos direitos humanos, alguns dos critérios serão zerados com certeza). Claro: esse detalhamento também vale para assuntos que são responsabilidade governamental.

4. Existem 5 critérios de avaliação da redação do ENEM: dois deles são linguísticos e os demais são relacionados à capacidade de analisar, relacionar, selecionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. Qualquer pessoa que apresente uma única visão, sobretudo se for brusca ou drástica, vai falhar nesses três e não vai atingir nem metade da nota possível.

5. Outra coisa que ainda garante nota zero para a redação é a fuga total ao tema. Por isso, se o candidato chega com ideias prontas para depreciar os direitos humanos, corre um risco ENORME de perder o foco. Tentar adivinhar o tema ou decorar frases feitas é FURADA. Quem quer ir bem precisa se dedicar com atenção à leitura da coletânea de textos apresentada na prova, mobilizar os conhecimentos que já tem sobre o assunto e tirar dali uma análise razoável, sensata, ponderada.

No fundo, acho que a decisão da Justiça Federal foi alardeada de modo exagerado e desnecessário pelos irresponsáveis que apoiam o Escola Sem Partido (projeto de nome excelente e com conteúdo enganoso, inconsistente e irresponsável).

A educação se baseia em pilares que incluem o direito à diversidade (étnica, religiosa, de gênero) e o direito à liberdade de expressão (O Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, portanto a liberdade de expressão está condicionada ao respeito pelos direitos humanos). A orientação para a redação do Enem 2017 é que todos continuem respeitando essas ideias.

Para quem quiser mais detalhes, pode ler a Cartilha do participante do Enem 2017 ou se informar melhor sobre os direitos humanos.

Uma novidade no Enem 2017 é que a Justiça Federal suspendeu dia 25/10 aquela regra que prevê punição aos candidatos que desrespeitem os direitos humanos na redação da prova. Nos anos anteriores, ferir os direitos humanos era um dos motivos para o candidato zerar automaticamente na redação, de maneira que os outros aspectos nem eram […]

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25 Outubro 2017
Cada dia mais a avaliação dos conhecimentos está pendendo para o lado da REFLEXÃO e se afastando da simples memorização.
Isso é ótimo, uma vez que jamais seremos capazes de memorizar a crescente quantidade de informações que existe no mundo.
Como o ENEM segue essa tendência, não é de se estranhar que tenhamos encontrado em provas anteriores atividades que não exigem exatamente um conhecimento prévio, mas sim uma capacidade de análise de dados do mundo e de textos de naturezas variadas (como gráfico e tabela, por exemplo, que podem até ter elementos verbais, mas são sobretudo visuais).
No vídeo de hoje, contamos com a ajuda da Júlia, a Matemaníaca, para analisar duas questões de matemática do Enem (2015 e 2016) que podem ser resolvidas somente com interpretação de texto, sem fazer contas ou decorar algoritmos.
É claro que fazer contas ou usar algoritmos para resolver problemas também são habilidades importantes, mas não é menos importante saber que você pode respirar fundo e ir fazer a prova se sentindo SEGURO com a certeza de que sua capacidade de análise e reflexão também será valorizada.
Leia a prova com calma e atenção; grife as partes mais importantes de cada enunciado; verifique se há dados “sobrando”, que podem te confundir apesar de não serem essenciais para a resolução do exercício e não se assuste ao bater o olho em uma atividade cheia de gráficos ou tabelas pensando que não vai conseguir. Para saber mais, assista:

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Cada dia mais a avaliação dos conhecimentos está pendendo para o lado da REFLEXÃO e se afastando da simples memorização. Isso é ótimo, uma vez que jamais seremos capazes de memorizar a crescente quantidade de informações que existe no mundo. Como o ENEM segue essa tendência, não é de se estranhar que tenhamos encontrado em […]

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5 Setembro 2017

Léo Ottesen*

 

Assim como a própria vida, os textos literários têm altos e baixos. As emoções que se desenvolvem podem variar entre positivas, negativas, neutras, enfim. E é essa “montanha-russa de sentimentos” que, muitas vezes, consegue prender a atenção do leitor. Seja num momento de tensão arrepiante ou de uma piada histérica, o envolvimento do leitor com a história acompanha esse ritmo, o qual também é influenciado pelo tamanho do texto, bem como das partes que o compõem. Portanto, hoje, eu resolvi tratar especificamente do gênero narrativo e, mais especificamente ainda, dos contos, já que os seus tipos (subgêneros) se diferem bastante nos quesitos ritmo e extensão, e também nas suas estruturas.

Quando se fala de estrutura textual, logo vem à mente o esquema escolar de início, meio e fim; ou ainda: introdução, desenvolvimento e conclusão. E está correto. Contudo, na narrativa – que é literatura, arte, espírito –, é preciso que se enxergue além das ideias estáticas e dos conceitos quase matemáticos, das regras burocráticas que praticamente extinguem o prazer da leitura. Pede-se que se “sinta” o ritmo do texto, durante a leitura ou escrita, sem essa preocupação com a enfadonha divisão das partes. A título de exemplo: podemos ter uma narrativa cujo clímax (o ponto alto da história) acontece durante o desenvolvimento, e, assim, a conclusão pode apresentar a vida do protagonista muitos anos depois do que fora contado. Também podemos ter o clímax ao final da conclusão – o que é comum nos contos –, e que provoca no leitor uma sensação de êxtase, e o que torna o desenvolvimento, isto é, a maior parte da história, algo quase desimportante. Ou seja, nem sempre essas definições vão ser totalmente válidas. Mais importa, pois, ser capaz de dançar no mesmo ritmo que o texto, independentemente do local.

Mas, afinal, o que são os contos? É possível encontrar diversas definições por aí: o que aprendemos na escola; na universidade; nos livros; durante a escrita dos próprios… Por isso, como estamos focando na extensão – ou tamanho – dos textos, não vou me estender na tentativa de definir o gênero, apenas espero do leitor a boa-vontade de confiar no seguinte: o conto é uma história que possui narrador, personagens, lugar – no tempo e no espaço – e enredo (uma narrativa) de pouca duração (curta). Então, de maneira simplista, o conto é uma narrativa curta. Ou bem curta. Ou curtíssima. Veremos isso mais à frente.

Dizer que um texto é curto certamente não parece muito científico – e de fato não o é –, mas, a fim de evitar divagações desnecessárias, entendamos a extensão curta como algo possível de ser lido de uma só vez. Pois é, isso não ajuda muito, já que há pessoas que leem rapidamente e terminam um livro de duzentas páginas durante uma tarde. Tomemos esses leitores como exceção. A regra, então, seria a de que, entre sentar pra ler e precisar levantar-se para fazer alguma outra coisa, conseguimos ler entre duas ou três e dez páginas. Pronto. Eis a extensão clássica de um conto. Por que “clássica”? Porque, mais uma vez, a literatura, enquanto arte e espírito, movimenta-se e se transforma junto com a Humanidade, portanto, absolutamente toda e qualquer definição acerca dela pode (e deve!) ser modificada no decorrer do tempo. E é o que aconteceu e acontece com esse tipo de texto.

Há contos de vinte páginas. Outros, de três, não apresentam um lugar no tempo. Alguns têm várias personagens, alguns têm uma. Há contos sem lugar no tempo nem no espaço nem personagens e com apenas uma linha de extensão! Então, se as estruturas não seguem uma regra fixa e as extensões variam, e se por vezes nem mesmo a definição de narrativa é totalmente respeitada, como todos esses textos podem ser considerados a mesma coisa? Oras, é por causa da sensação que provocam, pela dança que nos permitem, pelo ritmo.

Via de regra, o conto tem seu ápice no final, deixando o leitor suspenso pela história. É diferente, portanto e por exemplo, de um romance, cujo ápice (ou ápices) acontece(m) durante a narrativa e no final ocorre o retorno à normalidade – com algumas mudanças. Assim, o conto “O menino e o lobo” termina com a fera devorando todo o rebanho do protagonista, ou seja, a parte mais significativa da história está no final. Contudo, sabendo que as regras são feitas para serem quebradas, é preciso dizer que nem mesmo o sentimento catártico ao final dos contos aparece em todos. Isto é: esse gênero é uma terra sem leis.

Agora, se, por um lado, é uma tarefa difícil identificar o gênero conto, por outro, é justamente isso que permite a criação de diversas formas de escrevê-los. É aqui onde entram recursos linguísticos, ferramentas de escrita, fenômenos psicológicos e por aí vai. O contista, a partir da liberdade que existe na criação, vai utilizar e apresentar esses fatores da maneira que lhe aprouver, a fim de provocar algum tipo de impacto no leitor. Por exemplo, o autor pode deixar sua personagem implícita (ou elíptica ou subentendida ou subliminar, enfim) e, assim, “violar” a estrutura narrativa – que exige personagem, tempo, espaço, etc. Ou pode começar a história pelo fim, também rompendo com a forma clássica de enredo. Para ilustrar, dois contos que utilizam essas ferramentas, respectivamente, de Hemingway e Alan Moore:

“Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.”

“Tempo. Sem querer, inventei uma máquina do.”

Em Hemingway, apesar da aparente ausência dos traços que definem uma narrativa (personagens, tempo etc.), a extensão do texto e o ritmo em que ele é lido, que são intimamente interligados, levam o leitor à catarse: o ápice da história, quando tudo é explicado e findo; aqui, quando descobrimos a tragédia ocorrida: “sem uso”. As personagens ficam “escondidas” na imaginação do leitor: o casal que perdeu o bebê e agora se desfaz do sapatinho sem uso. Já em Moore, com mais humor, notamos a existência de um narrador-personagem a partir da flexão verbal em primeira pessoa do singular: “[eu] inventei.” Contudo, as demais características dos contos é ausente ou subentendida. O local no espaço, isto é, o ambiente da narrativa, é o próprio texto; o local no tempo é a duração da leitura, com um viés paradoxal: a história começa pelo final e se repete – como se o próprio conto fosse, de fato, uma viagem no tempo. Então, podemos classificá-los como contos, por serem narrativas curtas, muito embora algumas características clássicas do gênero estejam ausentes na materialidade do texto, mas presentes na virtualidade e na imaginação do leitor.

Esses contos de uma linha, por sua extensão, são chamados de nanocontos. Apesar de serem muito pequenos, eles conseguem provocar emoção e seus ápices acontecem ao final da leitura, e até depois da leitura, como em Hemingway, onde o leitor se pega elaborando o que havia acontecido com as personagens antes do momento da escrita. Assim, seguindo a caracterização a partir da extensão, do menor ao maior, temos: nanocontos, microcontos, minicontos e – simplesmente – contos. A distinção entre os médios é complicada, porém, didaticamente é possível definir os microcontos como aqueles compostos por um ou dois parágrafos, enquanto os minicontos podem chegar a duas páginas. Já os contos em si chegam a dezenas de páginas, não devendo ser confundidos com o gênero novela. Mas isso é outro assunto.

Por motivos de espaço, não vou dissertar, aqui, acerca dos minicontos nem dos contos. Todavia, acredito ser válido falar sobre os micros e, para isso, recorro ao mestre Eduardo Galeano:

“Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.”

Até aqui, o leitor já deve ser capaz de identificar esse texto como uma narrativa curta, um conto, uma vez que ele apresenta os quesitos básicos do gênero, principalmente o impacto ao final. Outro traço importante dos contos, pois, é a unidade: poucas personagens e só um ponto principal. Isto é, o texto já começa visando ao desfecho, sem que haja subtramas ou longas descrições do ambiente, do aspecto físico das personagens, etc. Dessa forma, Galeano constrói sua narrativa pautada unicamente na constatação de que, se são proibidas, quer dizer que houve quem tenha praticado essas ações antes. O tempo da história fica subentendido: o personagem-narrador estava em Madri, depois no Rio. Esse foi o percurso feito pelo protagonista durante a narrativa. Assim, o conto mal inicia e já tem seu desfecho: vai direto ao ponto.

Um conto de maior extensão, como “O gato preto”, de Edgar Allan Poe (grande teórico e autor do gênero), pode até vir a apresentar alguns momentos de tensão e importância antes do ápice, mas, ainda assim, esses movimentos e sensações servem para embalar e manter o ritmo do texto, não necessariamente para modificar a história de maneira relevante, porque, mais uma vez, o enfoque do conto é o final. Portanto, ao se pensar em trabalhar com a narrativa curta, é importante que se tenha em mente o que se pretende alcançar com o texto, ou seja, qual será seu ápice, no final, o qual deixará o leitor extasiado, seja pra bem ou pra mal. Além disso, é preciso enxugar a narrativa até que ela se torne condensada, a fim de que sua leitura possa ser feita em um único momento; o conto deve ser direto, com um único ponto essencial, e, portanto, com poucas personagens e a menor quantidade de descrições possível. Enfim, no conto, não existe “enrolação”.

*Léo Ottesen é escritor, poeta e professor de escrita criativa.

 

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Léo Ottesen*   Assim como a própria vida, os textos literários têm altos e baixos. As emoções que se desenvolvem podem variar entre positivas, negativas, neutras, enfim. E é essa “montanha-russa de sentimentos” que, muitas vezes, consegue prender a atenção do leitor. Seja num momento de tensão arrepiante ou de uma piada histérica, o envolvimento […]

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