7 Julho 2021
Quem comenta sobre o tempo no elevador não está necessariamente interessado em meteorologia. O frio, o calor, a chuva, o vento e outras amenidades do dia a dia podem surgir na fala de quem tenta puxar assunto não para um aprofundamento do tópico escolhido, mas para estabelecer vínculo, para demonstrar abertura, para sinalizar algum tipo de simpatia ou amabilidade.
 
A língua não é literal e transparente, e por isso nossas falas nem sempre dizem aquilo que parecem dizer. Logo, um “Oi, tudo bem?” pode representar um cumprimento despretensioso, mesmo que tenha ares de curiosidade ou desejo de conhecer a condição do interlocutor. Uma construção mais informal é o “E aí?”, que pode ter como resposta um novo “E aí?”. Pode parecer não haver mensagem nesse diálogo, mas com ele se estabeleceu uma interlocução entre os falantes envolvidos. “Pois é.”
Esses são exemplos da função fática da linguagem, pois demonstram um empenho do emissor em iniciar ou manter a comunicação (outros exemplos mostram que esse “pendor para o contato” também poderia servir para “atrair a atenção do interlocutor ou confirmar sua atenção continuada” – trechos de Roman Jakobson em “Linguística e comunicação”).
 
Engana-se quem acha que tudo isso significa que o “Tudo bem?” não pode ter como resposta um relato de alegrias, mazelas e acontecimentos da vida. Em uma situação comunicativa, o que determina o significado real das frases é o contexto: quem são as pessoas envolvidas, qual é seu grau de intimidade, qual é a situação, quão interessadas as pessoas estão na resposta etc. Há cenários em que o “Tudo bem?” poderá significar “Boa tarde”, “Como vai?”, “Deu certo?”, “Você está melhor?”, “As coisas ficaram bem?”, “Posso falar com você?”, “Precisa de algo?” etc. Sendo assim, mesmo no Brasil de 2021, não é preciso extinguir o “Tudo bem?” como se a pergunta fosse insensível ou como se as respostas fossem óbvias. Elas podem ser mais variadas do que qualquer dicionário nos faria supor.
 
Texto de @carolinajesper.
Cursos: @portuguespravida.cursos.
Esta postagem foi inspirada pelo seguinte tuíte de @camilarrregi:
Se ensinassem pras pessoas que “oi, tudo bem?” exerce uma coisa chamada função fática não ficariam tão putos com essa pergunta. quem pergunta isso quer iniciar uma conversa, não saber como vc tá literalmente

Quem comenta sobre o tempo no elevador não está necessariamente interessado em meteorologia. O frio, o calor, a chuva, o vento e outras amenidades do dia a dia podem surgir na fala de quem tenta puxar assunto não para um aprofundamento do tópico escolhido, mas para estabelecer vínculo, para demonstrar abertura, para sinalizar algum tipo […]

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4 Julho 2021

Leia:

Foto do escritor Fernando Pessoa acompanhada pelo texto "Ainda não existia Facebook e eu já tinha 4 perfis falsos".

Recebi a piada pelo Whatsapp e trouxe para cá para conversarmos sobre um assunto muito relevante: conhecimento prévio.
Quem poderia rir desta imagem? Há alguns “pré-requisitos”:
• Perceber que a pessoa retratada é o Fernando Pessoa;
• Saber que Fernando Pessoa é conhecido por ter escrito usando heterônimos;
• Saber que muitas pessoas criam perfis falsos em redes sociais.

Essas informações, que podem ser consideradas “conhecimento de mundo”, são essenciais para a compreensão do texto e da imagem, que brincam com um dado histórico, relacionando-o a uma tendência da atualidade. Muitas vezes, a falta de compreensão na leitura ocorre porque o leitor não dispõe de informações que seriam necessárias para a construção do sentido do texto. Por isso, manter-se informado e conhecer minimamente saberes de diversas épocas e diversas áreas pode ser um recurso relevante para a interpretação de textos.

Gosta desse assunto? Quer saber mais sobre ele? Conte nos comentários quais curiosidades você tem.

Leia: Recebi a piada pelo Whatsapp e trouxe para cá para conversarmos sobre um assunto muito relevante: conhecimento prévio. Quem poderia rir desta imagem? Há alguns “pré-requisitos”: • Perceber que a pessoa retratada é o Fernando Pessoa; • Saber que Fernando Pessoa é conhecido por ter escrito usando heterônimos; • Saber que muitas pessoas criam […]

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4 Julho 2021

Onde está o significado? Somente nas palavras escolhidas? Somente na intenção do autor? Somente na forma de dispor as palavras?⁣⁣
Como palavras idênticas podem criar efeitos tão diferentes quando mudamos os contextos? Como palavras idênticas podem gerar sensações tão distintas?⁣⁣
⁣⁣
O desafio da interpretação é que, para construir sentido, TUDO CONTA. E o sentido não vem “pronto”: é o leitor que vai juntando todos os elementos que tem a seu dispor e, assim, constrói o sentido daquilo que lê.⁣⁣
⁣⁣
Ler significa, também, decodificar o que é óbvio. Mas é mais que isso, pois também requer que o leitor identifique os sentidos que estão ali presentes, mas nas entrelinhas. Por isso, em alguma medida, ler implica identificar o que está além do nível das evidências, mas sem extrapolar, pois a interpretação tem limites. É fácil? Não é. Mas é envolvente, desafiador e muito frutífero. Um bom primeiro passo é perceber que não basta ser alfabetizado para ser um bom leitor.⁣⁣

Observe:


⁣⁣
Esta imagem foi traduzida do inglês. Ela brinca com extremos explícitos: o da fonte sobrecarregada de corações e o da fonte que lembra manchas de sangue. No nosso dia a dia, os traços que buscam nos influenciar e gerar sensações em nós, leitores/consumidores, tendem a ser mais sutis, mas também estão lá. Por isso, em um mundo tão imagético como o nosso, não basta processarmos palavras, pois todo detalhe importa: mensagem, fonte, cores, tamanhos, disposição etc.⁣⁣
⁣⁣
Pode acreditar: cada vez que você passa a estar atento a um aspecto que antes passava despercebido, você se torna um leitor melhor. ❤️⁣⁣

Onde está o significado? Somente nas palavras escolhidas? Somente na intenção do autor? Somente na forma de dispor as palavras?⁣⁣ Como palavras idênticas podem criar efeitos tão diferentes quando mudamos os contextos? Como palavras idênticas podem gerar sensações tão distintas?⁣⁣ ⁣⁣ O desafio da interpretação é que, para construir sentido, TUDO CONTA. E o sentido […]

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4 Julho 2021

No livro Mitos de Linguagem (@editoraparabola), o professor Gabriel de Ávila Othero afirma que a ideia de que existe um português correto, que todos estudam na escola por mais de dez anos e raramente dominam, reforça o sentimento de que a língua portuguesa é algo realmente inatingível. Mas isso se deve à forma como vemos (e ensinamos) a gramática normativa.⁣

Em resposta à ideia de que o português figura entre as línguas mais difíceis do mundo, o autor esclarece que NÃO se pode afirmar a existência de um grupo de línguas fáceis e difíceis em si. A explicação é que algumas línguas podem ser mais “simples” que outras em alguns aspectos específicos e, ao mesmo tempo, ser mais “complexas” em outros. E de onde vem a impressão de que há línguas mais fáceis, como o inglês, por exemplo? ⁣

Othero explica que costumamos julgar o grau de dificuldade de alguma língua também por comparação à nossa própria língua (o que é diferente de considerar a língua simplesmente fácil ou difícil por si).⁣ Ou seja, tudo bem se você, brasileiro, acha mais fácil aprender espanhol que russo. Mas isso não significa que, de maneira objetiva, uma seja mais difícil ou fácil que a outra.

Para o professor, talvez se possa afirmar que a única língua mais simples de fato seria uma língua não natural, uma língua artificial (como o esperanto, criado com o intuito de que se tornasse uma segunda língua universal, razão pela qual suas regras gramaticais buscam simplicidade e lógica). ⁣

Vamos ouvir mais uma especialista? Com a palavra, a linguista Margarida Petter: “Ao comparar as línguas em qualquer que seja o aspecto observado, o linguista constata que elas não são melhores nem piores; são, simplesmente, diferentes. Tampouco encontram-se evidências de uma língua que esteja próxima do princípio de uma escala evolutiva, que possa ser considerada primitiva em relação a outras já evoluídas”.⁣

No livro Mitos de Linguagem (@editoraparabola), o professor Gabriel de Ávila Othero afirma que a ideia de que existe um português correto, que todos estudam na escola por mais de dez anos e raramente dominam, reforça o sentimento de que a língua portuguesa é algo realmente inatingível. Mas isso se deve à forma como vemos […]

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