3 Dezembro 2017

Qual é o sentido da vida, do universo e tudo mais? E, afinal, quem sou eu? Bom, respondendo à primeira pergunta, 42. Já a segunda, essa é um pouco mais difícil, embora seja simples. (Mas como assim?) Assim: você é você, ou seja, você é quem todas as outras pessoas não são.

Uma questão muito complexa é a da tentativa de definir a identidade das pessoas. Por isso, aqui, não é pretendido que se disseque completamente esse conceito, nem os seus similares: personalidade, caráter e ego. Tão-somente se definirá a identidade para fins explicativos, a saber: a identidade é a soma das características naturais com as experiências pelas quais o indivíduo passa durante a vida. Isto é, cada pessoa tem uma identidade própria, uma vez que seu código genético é único e, portanto, suas características naturais são únicas também. Mas então como explicar as identidades ou personalidades dos irmãos-gêmeos, que possuem o mesmo DNA? Aí tomamos a segunda perspectiva: o meio ambiente, as pessoas com as quais convivem, a forma como eles lidam com as coisas que acontecem, em outras palavras, suas experiências pessoais. Em se tratando de Arte – especificamente a Literatura –, é possível entender essa identidade (ou personalidade, de persona) como a biografia do artista, ou autor. Assim, entendemos que a pessoa do autor, formada por traços inatos e por outros – construídos através da vivência – é única e não pode ser transferida a ninguém.

Quando lemos um texto literário, algumas pessoas se destacam entre as palavras; como as personagens: protagonistas, antagonistas e coadjuvantes, e o narrador: a voz que conta a história e que pode ou não ser uma personagem dela. Interessante é perceber que essas pessoas, invariavelmente, são fictícias! Até mesmo em romances históricos, os quais narram acontecimentos reais, as personagens representadas não são definitivamente reais (embora sejam bastante verossímeis, isto é, próximas da realidade). O que ocorre é que, no ato da escrita, o autor é responsável por definir o que chamamos de pacto de leitura: a criação de um mundo diferente do que existe, o qual possui regras próprias e é povoado por seres próprios. O leitor, do seu lado, aceita as verdades contidas na história como reflexos da mente criativa e criadora do autor, não as confundindo com a chamada realidade. Desta forma, ainda que a história seja baseada em eventos e pessoas reais, jamais, em hipótese alguma, podemos considerá-la verdadeira.

A ficção tem, sim, laços com a realidade, como a já citada verossimilhança, que se define como a lógica da narrativa ou coerência; contudo, é de suma importância que saibamos separar a literatura e o mundo real. Então, compreendendo que o narrador é uma pessoa (fictícia) e que o autor também é uma pessoa (física), onde encaixamos a tal identidade? Simples: em ambos. Mas isso desde que os distingamos entre si, já que eles não dividem o mesmo mundo, portanto, não podem ter tido as mesmas experiências. Em outras palavras, é impossível que o narrador e o autor sejam a mesma pessoa, com a mesma identidade e personalidade, embora – novamente – pode ser que eles dividam alguns traços em comum, assim como os próprios mundos fictício e real dividem.

É notável, pois, o fato de que as variações que uma pessoa física sofre em sua identidade, durante a existência, são poucas se comparadas às dos narradores. Se definirmos a identidade como já fizemos, o indivíduo vai se modificar ou se consolidar a partir das experiências que tem, enquanto o narrador, por outro lado, não depende dessas experiências para ser criado ou transformado; ele depende única e exclusivamente da imaginação do autor. Um escritor, assim, terá sua identidade construída através da vida, podendo, durante essa construção, criar inúmeras outras pessoas muito mais diferentes entre si do que ele próprio e seus eus passados.

Essa distinção, ou diferenciação, entre as pessoas surgidas de uma única pessoa colabora, portanto, para a certeza de não se poder fundir – e confundir – o autor e o narrador (por extensão, narradores). Desta forma, fica mais fácil olhar para o texto e não enxergar o autor, pelo menos não completamente.

Na poesia, por outro lado, não existe – via de regra – algo que possamos chamar de narrador, uma vez que os poemas tendem a não narrar histórias, mas sim construir imagens simbólicas com as quais o leitor possa vir a se “encantar”, isto é, identificar-se e se emocionar, bem como permitir que a poesia floresça em seu interior. Para tanto, o autor se vestirá novamente de outra pessoa; dessa vez, não um narrador, mas uma voz mais ligada aos sentimentos e à força da palavra: o eu-lírico.

Porquanto o escritor é capaz de criar diversos narradores para suas diferentes histórias, o poeta deve fazê-lo muito mais vezes – com os eus-líricos –, tendo em vista a extensão menor dos textos desse gênero. Em outras palavras, no tempo em que um escritor de prosa gera uma dúzia de trabalhos, um poeta é capaz de produzir centenas de textos. Somando-se a isso o fato de a poesia ser, por definição, voltada para as emoções humanas, temos, então, a facilidade em confundir o poeta com o seu eu-lírico. Afinal, deve ser muito difícil, para o autor, desenvolver vozes diferentes da sua a fim de falar sobre sentimentos humanos, ainda mais em um grande número de textos, não é mesmo? Imagine o esforço investido na escrita de um poema que fala sobre a morte da pessoa amada; e se a pessoa amada do autor não morreu; e se o autor nem sequer ama alguém; e se o autor nunca perdeu ninguém querido… Como ser honesto e sincero no poema, visando conectar-se com o leitor, falando sobre o que desconhecemos? Difícil, mas simples: evocamos uma pessoa que saiba daquele assunto. Uma pessoa fictícia, mas intimamente ligada às coisas do mundo real. Uma pessoa imaginária, mas que sente e sofre e ama e morre.

De forma criativa, porém partindo de traços humanos os quais podem ser facilmente reconhecidos no mundo real, o poeta desenvolve seu eu-lírico quase organicamente, porque é da própria natureza de sua atividade; um movimento, na maioria das vezes, pouco consciente e até automático. Quando se escolhe o tema do poema (ou quando a musa aparece), o autor, ainda que não sinta efetivamente aquilo sobre o que escreve, naquele momento, sabe o que deveria sentir – porque é humano, porque sente, sofre, ama, etc. Dessa forma, o eu-lírico, ao tratar de assuntos sobre os quais o poeta tem pouco conhecimento, não está mentindo ou fingindo para o leitor; principalmente porque, de novo, eles não são a mesma pessoa nem têm a obrigação de dividir os mesmos sentimentos. A voz lírica sente porque o poeta sabe o que deveria sentir. É estranho, mas não paradoxal, já que a emoção e a razão não são opostas.

Agora, se a pessoa física é diferente da pessoa literária (do narrador ou do eu-lírico), se uma é o Outro da outra, como é possível conhecer tão bem os poetas a partir, somente, das suas obras…? Bom, não é. O que pode vir a acontecer é o fenômeno que humildemente batizo de “lirismo translúcido”, o qual acaba sendo bem simples, apesar do nome aparentemente rebuscado. Se concordarmos que a voz que fala na poesia não é a voz do autor, mas de uma pessoa criada, e que as duas pessoas são diferentes, o poeta pode – por querer ou sem querer – deixar sua identidade aparecer naquilo que o Outro diz. Isto é, o eu-lírico revela a personalidade do seu criador.

É muito importante ressaltar, contudo, que essa poesia não deve sobrepujar a ideia das diferentes pessoas na literatura. Assim, ainda que seja possível reconhecer a identidade de um poeta (quer dizer, identificá-lo), não devemos esquecer que, no poema, quem nos fala é o eu-lírico. Eles podem ser mais ou menos parecidos, mas, ainda assim, tratam-se de duas pessoas de mundos diferentes e com personalidades distintas.

Quando um autor “aparece” no texto, portanto, ele está utilizando seus próprios conhecimentos e sentimentos através do eu-lírico. Apesar de continuar não sendo o poeta quem fala no poema, ele pode transmitir suas emoções para que o eu-lírico seja capaz de escrever sobre estas; da mesma forma como o eu-lírico pode escrever sobre emoções que o poeta desconhece. Assim, é importante compreender que, mesmo no poema mais íntimo e autobiográfico, o autor não está falando. Dessa forma, quando tentarmos interpretar um texto, vê-lo-emos enquanto objeto fechado e completo em si: com uma voz que diz e com algo que é dito; sem a necessidade de levar em conta autor, cidade onde viveu, casamentos, filhos, situação política etc. Mas isso sem deixar totalmente de lado o lirismo translúcido, o qual compreende a existência da identidade do poeta – mais ou menos explicitada. Configura um erro de leitura, portanto, julgar-se conhecedor íntimo de um autor tão-somente pelo conhecimento que se tem de sua obra.

Não é raro acontecer de partirem do leitor alguns pré-conceitos sobre o poeta, os quais refletem o que se espera da pessoa física a partir do que se conhece da pessoa literária. Por vezes, esses conceitos são supostamente positivos, mas também podem ser negativos, isto é, julgamos e definimos algumas qualidades encontradas no eu-lírico como parte do poeta. O que acontece, pois, é a inevitável desilusão: o poeta é uma pessoa comum, com falhas e acertos – diferentemente do eu-lírico, criado a partir da imaginação, que pode apresentar apenas qualidades positivas (por que não?). Assim, o leitor acaba cobrando, do autor, algumas características que são intrínsecas à sua criação e as quais podem nem existir – com efeito – na pessoa autora, na pessoa real.

 

*Léo é escritor, poeta e professor de escrita criativa.

Qual é o sentido da vida, do universo e tudo mais? E, afinal, quem sou eu? Bom, respondendo à primeira pergunta, 42. Já a segunda, essa é um pouco mais difícil, embora seja simples. (Mas como assim?) Assim: você é você, ou seja, você é quem todas as outras pessoas não são.

Uma questão muito complexa é a da tentativa de definir a identidade das pessoas. Por isso, aqui, não é pretendido que se disseque completamente esse conceito, nem os seus similares: personalidade, caráter e ego. Tão-somente se definirá a identidade para fins explicativos, a saber: a identidade é a soma das características naturais com as experiências pelas quais o indivíduo passa durante a vida. Isto é, cada pessoa tem uma identidade própria, uma vez que seu código genético é único e, portanto, suas características naturais são únicas também. Mas então como explicar as identidades ou personalidades dos irmãos-gêmeos, que possuem o mesmo DNA? Aí tomamos a segunda perspectiva: o meio ambiente, as pessoas com as quais convivem, a forma como eles lidam com as coisas que acontecem, em outras palavras, suas experiências pessoais. Em se tratando de Arte – especificamente a Literatura –, é possível entender essa identidade (ou personalidade, de persona) como a biografia do artista, ou autor. Assim, entendemos que a pessoa do autor, formada por traços inatos e por outros – construídos através da vivência – é única e não pode ser transferida a ninguém.

Quando lemos um texto literário, algumas pessoas se destacam entre as palavras; como as personagens: protagonistas, antagonistas e coadjuvantes, e o narrador: a voz que conta a história e que pode ou não ser uma personagem dela. Interessante é perceber que essas pessoas, invariavelmente, são fictícias! Até mesmo em romances históricos, os quais narram acontecimentos reais, as personagens representadas não são definitivamente reais (embora sejam bastante verossímeis, isto é, próximas da realidade). O que ocorre é que, no ato da escrita, o autor é responsável por definir o que chamamos de pacto de leitura: a criação de um mundo diferente do que existe, o qual possui regras próprias e é povoado por seres próprios. O leitor, do seu lado, aceita as verdades contidas na história como reflexos da mente criativa e criadora do autor, não as confundindo com a chamada realidade. Desta forma, ainda que a história seja baseada em eventos e pessoas reais, jamais, em hipótese alguma, podemos considerá-la verdadeira.

A ficção tem, sim, laços com a realidade, como a já citada verossimilhança, que se define como a lógica da narrativa ou coerência; contudo, é de suma importância que saibamos separar a literatura e o mundo real. Então, compreendendo que o narrador é uma pessoa (fictícia) e que o autor também é uma pessoa (física), onde encaixamos a tal identidade? Simples: em ambos. Mas isso desde que os distingamos entre si, já que eles não dividem o mesmo mundo, portanto, não podem ter tido as mesmas experiências. Em outras palavras, é impossível que o narrador e o autor sejam a mesma pessoa, com a mesma identidade e personalidade, embora – novamente – pode ser que eles dividam alguns traços em comum, assim como os próprios mundos fictício e real dividem.

É notável, pois, o fato de que as variações que uma pessoa física sofre em sua identidade, durante a existência, são poucas se comparadas às dos narradores. Se definirmos a identidade como já fizemos, o indivíduo vai se modificar ou se consolidar a partir das experiências que tem, enquanto o narrador, por outro lado, não depende dessas experiências para ser criado ou transformado; ele depende única e exclusivamente da imaginação do autor. Um escritor, assim, terá sua identidade construída através da vida, podendo, durante essa construção, criar inúmeras outras pessoas muito mais diferentes entre si do que ele próprio e seus eus passados.

Essa distinção, ou diferenciação, entre as pessoas surgidas de uma única pessoa colabora, portanto, para a certeza de não se poder fundir – e confundir – o autor e o narrador (por extensão, narradores). Desta forma, fica mais fácil olhar para o texto e não enxergar o autor, pelo menos não completamente.

Na poesia, por outro lado, não existe – via de regra – algo que possamos chamar de narrador, uma vez que os poemas tendem a não narrar histórias, mas sim construir imagens simbólicas com as quais o leitor possa vir a se “encantar”, isto é, identificar-se e se emocionar, bem como permitir que a poesia floresça em seu interior. Para tanto, o autor se vestirá novamente de outra pessoa; dessa vez, não um narrador, mas uma voz mais ligada aos sentimentos e à força da palavra: o eu-lírico.

Porquanto o escritor é capaz de criar diversos narradores para suas diferentes histórias, o poeta deve fazê-lo muito mais vezes – com os eus-líricos –, tendo em vista a extensão menor dos textos desse gênero. Em outras palavras, no tempo em que um escritor de prosa gera uma dúzia de trabalhos, um poeta é capaz de produzir centenas de textos. Somando-se a isso o fato de a poesia ser, por definição, voltada para as emoções humanas, temos, então, a facilidade em confundir o poeta com o seu eu-lírico. Afinal, deve ser muito difícil, para o autor, desenvolver vozes diferentes da sua a fim de falar sobre sentimentos humanos, ainda mais em um grande número de textos, não é mesmo? Imagine o esforço investido na escrita de um poema que fala sobre a morte da pessoa amada; e se a pessoa amada do autor não morreu; e se o autor nem sequer ama alguém; e se o autor nunca perdeu ninguém querido… Como ser honesto e sincero no poema, visando conectar-se com o leitor, falando sobre o que desconhecemos? Difícil, mas simples: evocamos uma pessoa que saiba daquele assunto. Uma pessoa fictícia, mas intimamente ligada às coisas do mundo real. Uma pessoa imaginária, mas que sente e sofre e ama e morre.

De forma criativa, porém partindo de traços humanos os quais podem ser facilmente reconhecidos no mundo real, o poeta desenvolve seu eu-lírico quase organicamente, porque é da própria natureza de sua atividade; um movimento, na maioria das vezes, pouco consciente e até automático. Quando se escolhe o tema do poema (ou quando a musa aparece), o autor, ainda que não sinta efetivamente aquilo sobre o que escreve, naquele momento, sabe o que deveria sentir – porque é humano, porque sente, sofre, ama, etc. Dessa forma, o eu-lírico, ao tratar de assuntos sobre os quais o poeta tem pouco conhecimento, não está mentindo ou fingindo para o leitor; principalmente porque, de novo, eles não são a mesma pessoa nem têm a obrigação de dividir os mesmos sentimentos. A voz lírica sente porque o poeta sabe o que deveria sentir. É estranho, mas não paradoxal, já que a emoção e a razão não são opostas.

Agora, se a pessoa física é diferente da pessoa literária (do narrador ou do eu-lírico), se uma é o Outro da outra, como é possível conhecer tão bem os poetas a partir, somente, das suas obras…? Bom, não é. O que pode vir a acontecer é o fenômeno que humildemente batizo de “lirismo translúcido”, o qual acaba sendo bem simples, apesar do nome aparentemente rebuscado. Se concordarmos que a voz que fala na poesia não é a voz do autor, mas de uma pessoa criada, e que as duas pessoas são diferentes, o poeta pode – por querer ou sem querer – deixar sua identidade aparecer naquilo que o Outro diz. Isto é, o eu-lírico revela a personalidade do seu criador.

É muito importante ressaltar, contudo, que essa poesia não deve sobrepujar a ideia das diferentes pessoas na literatura. Assim, ainda que seja possível reconhecer a identidade de um poeta (quer dizer, identificá-lo), não devemos esquecer que, no poema, quem nos fala é o eu-lírico. Eles podem ser mais ou menos parecidos, mas, ainda assim, tratam-se de duas pessoas de mundos diferentes e com personalidades distintas.

Quando um autor “aparece” no texto, portanto, ele está utilizando seus próprios conhecimentos e sentimentos através do eu-lírico. Apesar de continuar não sendo o poeta quem fala no poema, ele pode transmitir suas emoções para que o eu-lírico seja capaz de escrever sobre estas; da mesma forma como o eu-lírico pode escrever sobre emoções que o poeta desconhece. Assim, é importante compreender que, mesmo no poema mais íntimo e autobiográfico, o autor não está falando. Dessa forma, quando tentarmos interpretar um texto, vê-lo-emos enquanto objeto fechado e completo em si: com uma voz que diz e com algo que é dito; sem a necessidade de levar em conta autor, cidade onde viveu, casamentos, filhos, situação política etc. Mas isso sem deixar totalmente de lado o lirismo translúcido, o qual compreende a existência da identidade do poeta – mais ou menos explicitada. Configura um erro de leitura, portanto, julgar-se conhecedor íntimo de um autor tão-somente pelo conhecimento que se tem de sua obra.

Não é raro acontecer de partirem do leitor alguns pré-conceitos sobre o poeta, os quais refletem o que se espera da pessoa física a partir do que se conhece da pessoa literária. Por vezes, esses conceitos são supostamente positivos, mas também podem ser negativos, isto é, julgamos e definimos algumas qualidades encontradas no eu-lírico como parte do poeta. O que acontece, pois, é a inevitável desilusão: o poeta é uma pessoa comum, com falhas e acertos – diferentemente do eu-lírico, criado a partir da imaginação, que pode apresentar apenas qualidades positivas (por que não?). Assim, o leitor acaba cobrando, do autor, algumas características que são intrínsecas à sua criação e as quais podem nem existir – com efeito – na pessoa autora, na pessoa real.

 

*Léo é escritor, poeta e professor de escrita criativa.

escrito por

Léo Ottesen é escritor, poeta e professor de escrita criativa.



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